sexta-feira, 12 de maio de 2023

Doutor Sabujinho, o tiozão galanteador [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça]

Os ventos não andam favoráveis ao doutor Sabujinho. Esqueci de comentar em meu texto sobre o fatídico colega Rivarola que ele também é um espécime da família tradicional brasileira (ainda que tenha dito não ter votado no Abominável na última eleição, mas tenho dúvidas, uma vez que defendia entusiasticamente o Cara de Cratera para governador). Uma das suas famas mais famigeradas no setor (e já se espalhando alhures) é que se trata de um galanteador inveterado, que adora posar de cavalheiro da high society - mas no máximo lembra um personagem genérico d’Os Simpsons, alguns dos bêbados que fazem figuração no bar do Moe (falta só ser amarelo). 

Quando Goleador chegou ao setor, antes mesmo de ela ser apresentada a todos, doutor Sabujinho já se dispôs a ensiná-la o trabalho - ela teve a infelicidade de ter uma baia livre bem defronte à dele. E assim foi, por duas semanas: ele sentado juntinho a ela, praticamente no colo dela - ou no decote, dizem as más línguas. Colega Carnegie, que senta próximo, conta ter ouvido certa hora doutor Sabujinho dizer a ela que eles tinham tudo para formar uma dupla de sucesso na empresa, tipo Bebeto e Romário na seleção - num trocadilho óbvio (e infame) com o sobrenome da colega; e ele deve se achar o Romário, claro. 

Sorte dele o chefe não ter reparado direito: duas semanas para ensinar o trabalho é de uma ineficiência digna de uma conversa muito séria. Ainda mais porque Goleador tinha alguma experiência prévia - apesar de seu grande mérito é saber parecer uma digital influencer, mesmo que sua conta no Instagram tenha menos seguidores que a do Pato Rei. Experiência prévia que fez com que na terceira semana ela já notasse que tinha coisas a corrigir naquilo que Sabujinho lhe ensinara - e fazia. Claro que ela não comentou com o próprio, afinal, ele não apenas foi muito solícito com ela, como se mostra alguém querido por muitos colegas (não por mim, gostaria de reforçar, e também saliento que acho que é falsa essa amizade dos demais) e, principalmente, pelo chefe.

Pela proatividade de quando chegou, até suspeitamos que Goleador fosse disputar o posto de puxa-saco-mor, mas até agora não foi o caso - até agora! O que foi notável é que tão logo outra baia ficou disponível, Goleador foi ocupá-la. Segue perto do doutor Sabujinho, mas não tanto - e, mais importante, de costas para ele.

Doutor Sabujinho, ainda que não tenha desistido, sentiu os cortes da nova funcionária, e decidiu retomar seus galanteios para com Beviláqua, a secretária (que suspeitamos ser bisneta do jurista Clóvis, por conta do sobrenome), uma moça na flor da idade, bonita e reservada. A pobre colega foi o primeiro alvo do fatídico colega, tão logo ele foi contratado - e por onde já começou toda sua fama, até porque em sua primeira apresentação ele salientou que quem sustentou a casa na pandemia foi a esposa, que certamente ganha mais do que ele até hoje.

Esta semana tivemos a saída de uma colega, que vai para um emprego melhor. Podia ter resolvido isso com um e-mail, todos ficariam mais felizes com uma partida assim, mas ela fez questão de um almoço de despedida. Discutíamos onde poderíamos ir quando o chefe propôs um restaurante tradicional (e um pouco caro) aqui perto - onde, dizem, o PSDB foi fundado e por isso se dizia um partido com um pé no popular. Animamos: pelo tom, quem iria pagar a conta era o chefe. Pois foi depois de fazermos os pedidos que soubemos que não era o caso: ele avisou com solenidade que o bolo seria por conta dele. Era possível ler na cara de muitos colegas: “O bolo?! E essa facada que vou levar por um prato que nem faço muita questão?”. Ficou aquele climão na mesa, talvez ele tenha até sentido - ou não, mais provável. A certa altura, ele foi ao banheiro e algumas pessoas conversaram rapidamente sobre a conta. Sabujinho foi até Beviláqua e disse que pagava a conta dela - afinal, o salário dela é menor que o dele, ainda que a herança que presumimos deva ser bem maior. Ela simpaticamente (mais do que deveria) disse que não precisava.

Pois na hora em que a conta chegou e foi cada um pagar a sua, chegou a vez de Beviláqua e o garçom avisou que a parte dela - uma água mineral e um filé de frango grelhado com uma salada frugal, o mais fitnesse um dos mais baratos do cardápio - já havia sido paga pelo “senhor na ponta da mesa”. Ela olhou para Rivarola que fez um sinal como quem diz “relaxa, eu paguei e está tudo bem, não vai me fazer falta”. Por ser uma pessoa bastante discreta (eufemismo para tímida), não é possível afirmar que Beviláqua ficou puta, mas o “Eu disse para ele que não era para pagar minha conta” me dita entre os dentes fez com que eu desconfiasse que ela estivesse consideravelmente emputecida com mais essa cantada do “senhor na ponta da mesa”.

Após esse episódio, começou a circular certa piada maldosa pelos corredores com relação ao doutor Sabujinho. Não se sabe quem começou, mas o que se tem dito é que o fatídico colega Rivarola é um tiozão da Sukita que se acha o tio da lancha. Particularmente, eu achei essa descrição injusta com o tio da Suquita.


12 de maio de 2023

PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.

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