quinta-feira, 15 de maio de 2025

A concomitância das eleições e a tentativa de despolitizar (ainda mais) a sociedade

Considerado prioridade para 2025, tramita no Senado uma proposta de emenda à constituição que, dentre outras coisas, unifica as eleições no país - esferas federal, estadual e municipal, executivo e legislativo, todos de uma vez. 

O argumento é que as eleições são um custo direto e indireto para a sociedade: direto nos valores que a votação mobiliza, “consome recursos públicos escassos, num país em que necessidades prementes da população não foram ainda devidamente equacionadas”, segundo o senador Marcelo Castro (MDB-PI), como se o dreno de recursos públicos fosse as eleições e não a bolsa-milionário que o governo paga; indireto por “não dar descanso ao eleitor”, como falou o senador Otto Alencar (PSD-BA). No fundo, esse “descanso da política” é uma forma de priorizar a economia, pois a política desvia - ao menos teoricamente - a sociedade para assuntos de interesse coletivo, como prioridades, projetos e que tipo de sociedade, de cidade almejamos. Ou seja, eleições correm o risco de politizar a sociedade e prejudicar o status quo, fazer questionar a visão da economia que se pretende acima da política, ou seja, acima das lutas e contradições que o fazer da história impõe.

Numa sociedade de democracia de baixa intensidade, conforme Boaventura de Sousa Santos, as eleições servem, ou melhor, podem servir como um raro momento de educação e discussão política, fora da pauta introduzida pelos donos do capital (atualmente não apenas servidos pela mídia corporativa, como donos de boa parte dela), e trazer questões de interesse da sociedade como um todo para a ribalta - ainda que as pautas políticas venham sendo ofuscadas por pautas de moral e costumes. 

A atual concomitância de eleições para legislativo e executivo já se mostram deletérias: não só a crítica batida de não se saber em quem votou para deputado, senador ou vereador, como não se educa para as funções do legislativo, as atribuições do cargo: a eleição majoritária simplesmente engole as legislativas - deixando um flanco aberto para um voto de “neocabresto”, voto direcionado por alguma liderança (mais marcadamente religiosa, mas não só), sem uma reflexão sobre que interesses podem estar em jogo. O mesmo raciocínio vale para as eleições estaduais e federal coincidentes: a eleição para presidência acaba prevalecendo, diminuindo a atenção dada às propostas dos candidatos aos governos dos estados.

Imagine, então, se a essas discussões se somam também elementos de nível municipal. Quarenta e cinco dias para discutir questões que nos afligem em nível nacional, estadual, municipal, as propostas feita pelos postulantes para executivos e legislativos. Se atualmente já não se tem uma discussão à altura dos nossos problemas, tudo junto e misturado será a despolitização completa, uma eleição de consagração de dancinhas de tik tok e lacrações baixas. Uma mistura de Lei Falcão (1976) com vale-tudo de internet para estes tempos apoca(po)líticos.


15 de maio de 2025



https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/05/07/ccj-do-senado-adia-novamente-votacao-da-pec-que-acaba-com-reeleicao-para-prefeitos-governadores-e-presidente.ghtml


terça-feira, 13 de maio de 2025

Macedo está há três dias de férias [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Nota-se a importância de alguém pela falta que faz quando está ausente. Lembro de quando tirei trinta dias seguidos de férias. Quando voltei, na segunda-feira, a colega Bella me viu, fez cara de estranhamento e perguntou:

Você não veio quinta e sexta da semana passada, veio?

Pois é, trinta dias ausente para acharem que eu tinha pego um atestado curto.

Apesar que, pensando bem, também dá para notar a ausência de alguém pelo alívio que traz. Pelo visto, não é meu caso; e não vou citar exemplos, mas quem me lê assiduamente (sim, tenho desocupadas e desocupados leitoras e leitores) sabe a quem me refiro, ao menos algumas dessas pessoas.

Quem está de férias agora é Macedo. É apenas o terceiro dia, mas parece fazer trinta. Estamos todos aqui perdidos, batendo cabeça e sentindo falta do nobre colega. Noto que ele é uma espécie de professor de jardim da infância, com as crianças sempre carentes de atenção, umas pedindo informações, outras pedindo ajuda, outras querendo conversar, e ele se desdobrando para atender a todos, o que faz com uma impressionante paciência de professora do ensino infantil. Detalhe: além de ajudar colegas inoperantes (como este escriba), ele convive com tagarelas à esquerda, à direita, na frente e atrás (sendo que nenhum desses sou eu). Tudo isso e ainda dá conta de fazer sua parte do trabalho com esmero.

Por respeito às férias de meus colegas, evito mandar qualquer tipo de mensagem, até para que a pessoa não se lembre que sou também um colega de trabalho e, portanto, ele tem emprego e que uma hora as férias acabam - sempre cedo, muito mais cedo do que deveria. E costumo esperar a recíproca. Pois tem quem não se aguente - e nem falo de Robervals com sua culpa cristã, por roubar os bombons que eu nem sabia que tinha ganhado. Pouco antes das onze, Macedo me manda uma mensagem indignado (do jeito que ele consegue se indignar), pois Gambitto, o golden boy do setor e aspirante a novo Doutor Sabujinho, havia perguntado se ele iria participar da reunião (on line) da tarde. “Completa falta de noção”, foi minha resposta. Pouco antes da uma, ele me manda nova mensagem, ainda mais indignado: agora era a chefe perguntando se ele iria participar da reunião. Sem saber o que dizer, me restringi a dizer “Completa falta de noção, nível superior hierárquico. Você está de férias!”.

Como ele havia dado abertura, achei que poderia mandar algo também, e no meio da tarde enviei uma postagem engraçada do instagram, que tinha a ver com ele (enviei pelo whats, pois sei que não abre o chat do insta). Seria só hoje, depois voltaria a meus princípios de classe e não o lembraria de que eu existo. A resposta dele foi desoladora:

Depois vejo, agora estou em reunião.


13 de maio de 2025


Este é um texto ficcional (a imagem também), teoricamente de humor. Não há nada para além do texto. Qualquer semelhança com a vida real é uma impressionante coincidência, ou fruto da sua mente viciada que quer pôr tudo em formas pré-definidas