Comentário
de um amigo à minha última crônica, "Moças no mercado ou
balconistas", além de mais divertida do que a própria (sim,
ela se pretendia divertidinha), me fez pensar um pouco mais do porquê
do meu fracasso com Ruth, por exemplo – não era bem em Ruth, mas
deixo a crônica sobre o "GFS" para uma próxima –, e foi
um dos temas de um passeio-parlante que tive com uma amiga, hoje, que
durou umas quatro horas (vinte quilômetros?). É certo que se se
pensar que Ruth, a balconista, já figurou em mais de uma dúzia de
textos não se pode falar em fracasso completo: me rendeu uma
personagem para crônicas, ao menos. Em seu comentário, Alexandre
fala da "bofetada do destino" pelo seu atrevimento em
paquerar a atendente da livraria: ao se virar para apreciar uma vez
mais o sorriso da moça – "uma dessas suas criaturas mágicas:
doce, de sorriso sincero e alumiador, coisa tocante mesmo",
segundo ele – meteu a fuça na quina de uma prateleira.
Apesar
de ter aprendido a ser um pouco mais articulado com o tempo, não
abandonei a timidez, ou melhor, não fui abandonado por ela, que me
persegue como uma sombra – mesmo por onde não há luz. Para não
chamar a atenção – apesar da minha altura e do meu jeitão de
Pinky (do Pinky e Cérebro) não contribuírem muito –, para evitar
alarmes e surpresas, tento não destoar do ambiente, mantenho
involuntariamente minha cara de paisagem, e fujo de qualquer
ridículo, qualquer embaraço. Depois lamento que não me percebam, e
escrevo uma crônica do ridículo que consegui evitar.
Comentava
minha amiga: o que foge da ordem, o ridículo, o cômico, é algo que
não apenas chama a atenção, como pode ser algo que atraia –
bofetadas do destino levaremos de qualquer forma. Pensei nas minhas
"abordagens" a balconistas: sempre me restrinjo ao esperado
de um cliente normal – inclusive com a receita na mão, para
agilizar o atendimento! –, e deixo o ridículo para minhas
crônicas, quando já não tem muita serventia que rir de si próprio.
E como avisou minha amiga: evitar o ridículo é evitar também o
atrevimento. Ok. Mas um tipo cafajeste tiraria de letra o ridículo e
se garantiria no atrevimento; para um tipo mais do perfil "idiota"
– que dispensa o convite de um guria linda pra comer um
cachorro-quente depois da faculdade porque já jantou e deixa ela ir
sozinha, por exemplo –, temo que me sobre apenas o ridículo, sem o
atrevimento: eu vermelho pedindo desculpas por não sei o que e
querendo sumir o quanto antes – sem olhar pra ver se a moça não
estaria me dando bola.
Outra coisa que me chamou a atenção no comentário do Alexandre:
ele trata do ridículo acontecido com uma leveza que muito se
assemelha à do Francoy, de quem admito abertamente inspiração para
minhas crônicas sobre Ruth – só não me inspirou mais do que a
própria. Invejo essa leveza, ainda vejo minhas crônicas pesadas, e se tento aliviá-las, soam-me "querido diário".
Enfim, a ver se no meu próximo encontro com Ruth – ou outra
balconista –, não me permito alguma gafe, e que essa gafe me faça
esquecer que eu pretendia escrever uma crônica.
São
Paulo, 28 de junho de 2012.
2 comentários:
De alguém que fez o ridículo como forma de se expor ao mundo, posso dizer que ajuda, sim, a viver situações no momento, sem ter que lamentar depois. Mas e como fica quando se quer se jogar o ridículo fora?
Talvez a questão não seja ser ou não ridículo, mas marcar ao invés de apenas ser marcado.
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