terça-feira, 13 de maio de 2025

Macedo está há três dias de férias [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Nota-se a importância de alguém pela falta que faz quando está ausente. Lembro de quando tirei trinta dias seguidos de férias. Quando voltei, na segunda-feira, a colega Bella me viu, fez cara de estranhamento e perguntou:

Você não veio quinta e sexta da semana passada, veio?

Pois é, trinta dias ausente para acharem que eu tinha pego um atestado curto.

Apesar que, pensando bem, também dá para notar a ausência de alguém pelo alívio que traz. Pelo visto, não é meu caso; e não vou citar exemplos, mas quem me lê assiduamente (sim, tenho desocupadas e desocupados leitoras e leitores) sabe a quem me refiro, ao menos algumas dessas pessoas.

Quem está de férias agora é Macedo. É apenas o terceiro dia, mas parece fazer trinta. Estamos todos aqui perdidos, batendo cabeça e sentindo falta do nobre colega. Noto que ele é uma espécie de professor de jardim da infância, com as crianças sempre carentes de atenção, umas pedindo informações, outras pedindo ajuda, outras querendo conversar, e ele se desdobrando para atender a todos, o que faz com uma impressionante paciência de professora do ensino infantil. Detalhe: além de ajudar colegas inoperantes (como este escriba), ele convive com tagarelas à esquerda, à direita, na frente e atrás (sendo que nenhum desses sou eu). Tudo isso e ainda dá conta de fazer sua parte do trabalho com esmero.

Por respeito às férias de meus colegas, evito mandar qualquer tipo de mensagem, até para que a pessoa não se lembre que sou também um colega de trabalho e, portanto, ele tem emprego e que uma hora as férias acabam - sempre cedo, muito mais cedo do que deveria. E costumo esperar a recíproca. Pois tem quem não se aguente - e nem falo de Robervals com sua culpa cristã, por roubar os bombons que eu nem sabia que tinha ganhado. Pouco antes das onze, Macedo me manda uma mensagem indignado (do jeito que ele consegue se indignar), pois Gambitto, o golden boy do setor e aspirante a novo Doutor Sabujinho, havia perguntado se ele iria participar da reunião (on line) da tarde. “Completa falta de noção”, foi minha resposta. Pouco antes da uma, ele me manda nova mensagem, ainda mais indignado: agora era a chefe perguntando se ele iria participar da reunião. Sem saber o que dizer, me restringi a dizer “Completa falta de noção, nível superior hierárquico. Você está de férias!”.

Como ele havia dado abertura, achei que poderia mandar algo também, e no meio da tarde enviei uma postagem engraçada do instagram, que tinha a ver com ele (enviei pelo whats, pois sei que não abre o chat do insta). Seria só hoje, depois voltaria a meus princípios de classe e não o lembraria de que eu existo. A resposta dele foi desoladora:

Depois vejo, agora estou em reunião.


13 de maio de 2025


Este é um texto ficcional (a imagem também), teoricamente de humor. Não há nada para além do texto. Qualquer semelhança com a vida real é uma impressionante coincidência, ou fruto da sua mente viciada que quer pôr tudo em formas pré-definidas

 


terça-feira, 8 de abril de 2025

Macedo, o rapaz multi-tarefas [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

 Disse em meu texto passado que Macedo merecia (mais) um texto. Como comentei, ele entende tudo do trabalho. Se Pacheco, a nova funcionária, teve como trote ter que aguentar a conversa de Floriano, o nobre colega Macedo tem seu trote permanente, que é ser tutor em todos os assuntos de quem chega ao setor (e desta vez são dois), o que não deixa de prejudicar um pouco seu trabalho - mas confiamos que ele, no fim, dará conta de resolver tudo a contento, como sempre o fez. Não que sejamos acomodados, é apenas saber que ele tem competência suficiente para tutorar a nova colega, ajudar os antigos e ainda cumprir suas demandas - tudo dentro de oito horas. Poderíamos ajudá-lo? Poderíamos. Porém, como o próprio tempo verbal aponta, atuamos no futuro no pretérito, esperando que esse futuro chegue, mas ele nunca vem. Se algum dia ele não souber de algo, serei o primeiro a ajudá-lo, se eu souber como fazer (apesar que, se ele não souber, nós do setor que certamente não saberemos).

Se entende tudo do trabalho, fora dele Macedo reconhece sua ignorância, apesar de sua vasta cultura geral em assuntos muito aleatórios. E se Goreti, que também se diz um ignorante (e eu complemento: nos dois aspectos do termo), faz faculdade atrás de faculdade, geralmente desistindo no último ano, quando é preciso fazer estágio (como sênior, não tenho mais idade para isso, ele justifica), Macedo foca nas artes manuais. Maceda, por seu turno, se dedica à organização [bit.ly/cG230405] e a artes manuais mais artísticas.


Podemos dizer que ambos são versões proletárias do Rodrigo Hilbert, a Pequena e o Pequeno Hilbert. Até dá para parafrasear o Pequeno Wilber, dos Sobrinhos do Ataíde: estava o Pequeno Hilbert lépido e saltitante andando pela cidade com sua lancheira divertida do Patolino quando de repente se deparou com um pedaço de madeira abandonado na rua... [https://bit.ly/cGYTpeqwilber]

Voltemos à seriedade. Há tempos que nem ele nem Maceda compram carteiras e bolsas: quando enjoam da antiga, ele elabora e costura um novo modelo. Roupas? Ao menos as mais simples saem da própria casa. Em um ano, Macedinho até agora só teve fraldas, meias e calçados comprados. Precisa instalar um móvel? Chame um montador, porque nosso Pequeno Hilbert prefere construir o seu. Caneta? Ganhei uma feita de pena, em que só faltou ele produzir a tinta. 

Contudo, foi no casamento que essa dupla mostrou de vez suas habilidades. Enquanto a Pequena Hilberta fez toda a decoração do casório para 150 pessoas, com convites pintados em aquarela, sousplats bordados com fios de bambu em folhas de bananeira (ela diz que costela de Adão seria melhor, mas o nome da planta a desestimulou) e todo um jogo de luzes para quando discotecasse, o Pequeno Hilbert se dedicou a fazer as alianças, apenas. Tenho certeza de que só não fizeram também o jantar porque não tinham tempo hábil para tanto trabalhando oito horas. E porque as maçarocas que Macedo cozinha talvez causassem estranhamento entre os convidados (o pão de amêndoa de Maceda bem que cairia bem). Ao menos teve o maravilhoso licor de jabuticaba que Macedão e Macedona fazem.

Eram outros tempos, diz Macedo, com Macedinho as coisas mudaram de figura. Hoje o máximo que ele diz fazer são pequenas coisas, como o porta crachá todo incrementado com que apareceu semana passada, com direito a um led para caso seja necessária uma lanterna.


08 de abril de 2025


Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Não há nada para além do texto. Qualquer semelhança com a vida real é uma impressionante coincidência, ou fruto da sua mente viciada que quer pôr tudo em formas pré-definidas