A primeira vez que ouvi algo do gênero foi da minha mãe, no
aniversário de noventa anos do meu avô. Em meio à festa, mais pro
final, comentou, olhando para mim: “já vejo que isto vai virar uma crônica”. Não
virou. Porém notei que minha estimada progenitora tinha encasquetado
que eu transformava qualquer acontecimento em crônica. “Coisa de
mãe”, pensei eu, sabendo ser ela uma das minhas poucas leitoras
cativas, junto com meu pai – pelos motivos óbvios.
Dia desses estava numa despedida de um amigo, que iria para um curso
na Bauhaus, e depois de um dos seus amigos ter seu isqueiro roubado
(!), meu amigo viajante falou: “aposto que o Dalmoro vai
escrever uma crônica sobre isto”. Não escrevi. Creio que mais por
falta de tempo do que vontade, é certo. Mas comecei a me dar conta
que ando com certa fama de cronista crônico, quase um big-brother
do quotidiano – ao menos não tenho mais uma opinião formada
sobre tudo, como quando comecei a escrever por hobby e não para
redação da escola ou cursinho.
Fama essa reafirmada pelos meus amigos de república. Como somos
jovens-não-mais-tão-jovens, sem pré-combinarmos acabamos tendo quase quotidianamente uma
“hora do chá”, que não é às cinco da tarde, com chá preto, à
moda britânica, e sim às onze da noite, com chá de cidreira,
camomila, e ervas do gênero. Na hora do chá de ontem eles cismaram
que eu preciso parar de escrever: “quando você sair à noite, ao
invés de pensar na crônica, viva!”, sugeriu um deles, como se eu
tivesse trocado qualquer programa mais interessante por uma crônica
– e não o contrário, que já tivesse aceitado programas
aparentemente desinteressantes pensando numa possível crônica.
Tentei justificar minha escrita em larga escala deste ano como uma
tentativa de enganar a mim mesmo, que estou produzindo algo quando na
verdade precisava era produzir minha dissertação. “Cara, você
olha uma garota e já pensa numa crônica”, me acusaram injusta e
erroneamente: olho uma guria, penso em puxar papo, mas como não sei
o que falar – minhas abordagens estão mais para harakiris do que
para cantadas –, acabo sendo levado naturalmente à crônica –
muito eventualmente ela é interrompida bruscamente no meio, como no
evento de Camila, a moreninha da balada, que só virou crônica
quando não virava mais nada com a referida guria.
No fim, eis-me aqui, a escrever uma crônica para dizer que não sou
desses que transformam tudo em crônica: tenho me aventurado por
alguns contos e novelas também!
São Paulo, 08 de agosto de 2012.
ps: e Ruth existe de verdade!
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