Estou
caminhando na rua Coronel Xavier de Toledo, próximo à entrada do
metrô Anhangabaú, em direção à Paulista. Percebo um certo
frenesi entre os ambulantes: é a guarda civil municipal fazendo o
rapa. A novidade para mim é que desta vez passo quando o rapa está
em ação, e não quando já passou ou é ainda apenas uma ameaça.
Logo estão todos os ambulantes recolhendo rapidamente suas
mercadorias e partindo em disparada. Alguns levam só os produtos,
mesmo, e deixam as caixas onde as expunham. Outros – como o
criminoso que vende cedês de mp3 – saem carregando a caixa na
cabeça.
Vindo
na outra direção, um negro, desses que vendem relógio e
bijuterias, fura o primeiro cerco, mas corre na direção errada e é
pego no segundo – praticamente na minha frente, que de início me
assunto com uma mulher caindo. O homem se desvencilha da mochila que
um dos guardas segurava e desce as escadas, ainda com uma maleta.
Tropeça e cai. Os dois guardas decidem empreender a caçada: um
deles sai correndo atrás do bandido, cassetete numa mão, a mochila
na outra. O outro já desabotoou o coldre e troteia atrás dos dois
com a mão na arma.
É
prendendo vendedores ambulantes de berloques que São Paulo ganhará
o selo de cidade civilizada, vindo diretamente de Genebra,
penso.
Uma
multidão se forma para acompanhar a fuga – só um casal se beija
alheamente ao que se passa ao redor. Não chego a olhar com atenção,
mas numa vista rápida, conto cinco carros da guarda civil municipal:
combate eficiente ao que há de mais pernicioso na sociedade, pelo
jeito: dá tempo pra correr atrás de camelô. Duas mulheres me
perguntam se foi assalto. "Não, rapa", "Ah, coitado".
Um guarda com uma lanterna vasculha um local escuro e acha um papelão
com capas para celulares. Noto a grandiosidade da obra da guarda: o
Brasil sem as nocivas capas para celulares estará a um passo de se
tornar um país desenvolvido.
As
pessoas começam a se dispersar, eu também sigo meu rumo. No
caminho, um bichinho de pelúcia no chão, que o ambulante não
conseguiu pôr no saco e a guarda não recolheu como prova do crime.
Quem se abaixar para pegá-lo terá economizado cinco reais.
São
Paulo, 10 de agosto de 2012.
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