Os
protestos de quinta-feira-13 e a forma como o Estado reagiu à
manifestação até então pacífica puseram a disputa pelo
espectador e a opinião pública no centro da manifestação desta
segunda – tática levantada inteligentemente pelos manifestantes.
Na manifestação do dia 13, a polícia militar, atendendo aos apelos
da Grande Imprensa – vale lembrar os editoriais da Folha e do
Estadão, para não citar a abjeta mídia televisiva – por mais
“rigor” na repressão aos “baderneiros” conseguiu com isso
reverter a opinião pública que, como praxe num país conservador e
de forte raiz ditatorial como o Brasil, se punha contra os
“arruaceiros” e a favor da polícia descer o cacete em todos
aqueles “vagabundos”. Nesta segunda, a disputa será por colar a
pecha de “vândalos” novamente naqueles que protestam.
Conforme
a Grande Imprensa, a polícia militar não pretende utilizar o choque
desta feita – que ficará de reserva, para qualquer eventualidade.
Não ter o choque – tropa apta a “controlar” rebeliões em
presídios, por exemplo – no trato com os manifestantes é
positivo. Contudo, a falta de preparo da polícia militar em lidar
com a população, com o povo, com manifestações, não torna o
cenário muito tranqüilo.
Torço
para estar errado, mas vejo grandes chances do protesto não ser tão
pacífico como desejam os que dele participarão. E não falo por
causa dos exaltados, que esses se controlam enquanto a multidão não
é “provocada” por bombas de gás e balas de borracha. Como a
briga é pela opinião pública, é bem provável que a ordem do
governador Alckmin e seu secretário de segurança pública (sic),
Fernando Grella Vieira, seja infiltrar mais homens do que geralmente
ocorre. A solitária pedra que citei em outra crônica terá a
companhia de outras, e pode ser o estopim para a polícia militar
reprimir com “rigor” manifestantes que nada tem a ver com
policiais à paisana. Ou pode ser que a polícia não use de toda a
violência do dia 13, apenas o suficiente para inflamar os ânimos
amainados de alguns, e deixe o “vandalismo” correr solto. Diga-se
de passagem, os tais atos de “vandalismo”, supondo terem sido
cometidos pelos manifestantes, são bem leves e ordeiros: barricadas
com lixo são necessárias para atrapalhar o avanço da polícia, e a
quebra de vidros é coisa pouca, perto do que uma multidão pode
fazer. Mostra disso é o respeito às vacas sagradas brasileiras –
os carros –, que seriam barricadas bem mais eficientes.
As
sugestões dos manifestantes para que filmem os “exaltados” pode
ser positiva, se depois for possível mostrar que se tratam de
policiais militares – conseguir um IPM seria pedir demais e inócuo.
Controlar os ânimos dos manifestantes de fato, isso parece difícil,
mas não de todo impossível – a multidão é capaz de controlar os
que a formam, quando ainda sob seu próprio controle.
Foi
algo que discuti com amigos, ainda durante a manifestação do dia
13, com a avenida Paulista livre de carros e pessoas para o choque
passar: tendo a polícia militar apelado para a violência, talvez
seja o caso de apelar para a irreverência. Como os skatistas que vi
arriscarem umas manobras nessa hora, na Paulista, ou como o magistral
dançarino de “Stayin Alive”, no vídeo reproduzido no youtube.
Independente disso, um grupo mostrou saber fazer uso do poder das
imagens e tem feito “intervenções” capazes de rodar o mundo: os
manifestantes com flores é uma delas, e a citação de Os
fuzilamentos de 3 de maio, de Goya, não parece ser por acaso –
penso que novas imagens do tipo podem surgir hoje, que esse pessoal é
bom.
Pelas
proporções que o ato promete tomar, é bem provável que os
governos – municipal e estadual – cedam e revoguem o aumento da
passagem ainda esta semana. Daí, inclusive, o "inusitado" apoio de formadores de opinião que até ontem eram contra os manifestantes e abusavam de adjetivos pejorativos para se referir a nós. É sabido que os protestos não são por
vinte centavos – são por direitos, como gritam muitos cartazes, e
são também por causa de qualquer insatisfação difusa. Se essa
insatisfação for canalizada para outras bandeiras (que seja ainda
na linha do transporte público, algo como “R$ 3,00 ainda é um
roubo”), achar um novo estopim, pode ficar impossível controlar as
séries de manifestações – mais fácil, então, ceder agora os
vinte centavos, mesmo abrindo o “perigoso” precedente de que
disputar o poder de fato com os políticos traz resultados. Estes
atos, de qualquer forma, deixam no ar o risco de a Copa do Mundo ser
realizada sob estado de sítio.
Havia
terminado este texto quando vejo na internet a notícia de que
entulho foi depositado no Largo da Batata, local da manifestação de
hoje – santa coincidência! O Estado põe seus primeiros
infiltrados.
São
Paulo, 17 de junho de 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário