O
Palmeiras bem tentou, venceu o Coxa no primeiro jogo da final Copa do
Brasil, mas o assunto do dia ainda é o campeonato inédito do rival
Corinthians. Para a semana que vem, talvez a discussão seja sobre a
contratação de Ney Franco – responsável por montar esse time do
Coritiba que é só o Marcelo Oliveira não estragar que ganha
sozinho – pelo São Paulo. Para logo, deve voltar à tona o
julgamento do mensalão ou a CPI do Cachoeira. Até lá, a foto de
Maluf com Lula será assunto velho – precisará ser requentado para
ter algum efeito, se tiver. Mais provável que seja esquecido, como
esquecido estão as fotos de Maluf junto com FHC.
Semana
passada, assunto quente era o Paraguai – coisa que esta semana já
foi esquecida.
Em
uma belo espetáculo da Caleidos Companhia de Dança, “Para seu
governo”, eles souberam tratar com propriedade esse excesso de
informação, a ânsia (e a possibilidade) de estar a par de
tudo o que acontece imediatamente, para tudo esquecer no
imediato seguinte – na busca de estar sempre up-to-date,
verdadeiro up-to-minute
(e eu não sei porque não escrevi uma crônica sobre o
espetáculo).
Bem,
eu queria falar sobre o Paraguai. Admito, pouco sei sobre o país.
Sei que é um país pobre, desconfio que não tenha uma marinha, mas
não garanto, com a elite que possui; sem ideologia outra que a do
saque pelas elites, tem um Estado mínimo que não segue os
pressupostos do Estado mínimo neoliberal: não faz seu papel de
manter a ordem – necessária para o progresso, dizem. O atento
leitor, a informada leitora, talvez já lembre algo sobre o que
aconteceu em um passado recente por lá: um massacre em um conflito
de terras foi o estopim para que o então presidente Fernando Lugo,
em crise com sua base aliada, fosse destituído do cargo em menos de
quarenta e oito horas.
Lembro
que muitos dos meus amigos “de esquerda” (seja lá o que isso
signifique, mas eles se põem nesse rótulo) no Facebook republicaram
mensagem acusando a Monsanto de contribuir com a destituição de
Lugo. Mais do que isso: a forma como era posta, a Monsanto era
praticamente a artífice do que se tem chamado de golpe de estado
legislativo.
Como
disse: pouco entendo do Paraguai. Mas mesmo entendendo pouco, quase
nada, tenho meus palpites sobre a acusação à Monsanto. Achar que
ela tem todo esse poder, soa um pouco ingênuo. É como achar que o
golpe militar no Brasil, em 1964, foi obra da CIA, tão-somente, e
não havia setores das elites – política, econômica, agrária,
industrial – que tinham interesses em jogo – para não falar de
uma parcela da população que apoiava o combate ao comunismo a
qualquer custo. Acredito que o mesmo deva valer no Paraguai: há
disputa pelo poder político – como em qualquer país democrático,
ou então o PT pedindo impeachment do FHC por causa das privatizações
era uma tentativa de golpe –, há interesses econômicos – dentre
esses, os dos grandes fazendeiros brasileiros, por exemplo, e o da
Monsanto, por que não? – há tensões externas e internas, enfim.
Por que resumir tudo a um bode expiatório?
Atacar
a Monsanto também soa de uma confortável preguiça intelectual:
encara-se a América Latina como quintal dos EUA, que fazem o que
querem por aqui, como aconteceria há cinqüenta anos. Esquecem-se
que o mundo mudou um pouco nos últimos tempos, e a ameaça de acordo
de livre-comércio do novo governo paraguaio com a China mostra que
os bons tempos da guerra fria, quando era fácil achar o inimigo, não
dão mais conta do presente. A China já tomou o quintal do Japão,
já assumiu o que era o quintal da Europa, e vem com tudo para o
quintal dos EUA, com uma política agressiva de investimentos diretos
e acordos comercias.
Posso
estar enganado e a China tenha aparecido nessa história por mero
acaso, sem querer, e sem nada influenciar no processo político
paraguaio. Contraditoriamente aos meus amigos esquerdistas
up-to-minute, eu só
não descartaria as últimas novidades em nome das velhas ideologias
– leituras um pouco menos simplórias do mundo e busca de análises
um pouco mais embasadas talvez sejam mais importantes que
compartilhar a cada dois minutos as novidades que corroboram
arcaísmos.
São
Paulo, 06 de julho de 2012.
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