Quando o governador Geraldo Alckmin diz que a
violência em São Paulo está "sob controle", ou ele está por demais
alienado da realidade do estado que comanda, ou é conivente
com assassinatos e todo tipo de truculência que a PM sob suas
ordens tem sido acusada.
É normal que ele veja a PM paulista como "bem preparada" e dotada de
"alta tecnologia" – afinal, um governador que assume falhas, por mais
evidentes que sejam, é visto como incompetente na nossa sociedade da
hipocrisia –, entretanto, daí para tentar desqualificar a série
de denúncias contra abusos cometidos pela polícia já vai contra o
que seria de se esperar de um político sério e afim à democracia –
o que não surpreende em Alckmin, portanto –, mas agrada a uma boa
parcela da população de São Paulo, obscenamente conservadora.
Independente se ignorância ou má-fé do governador, o que de fato
está sendo transmitido em seu discurso é um aval às ações
truculentas, violadoras dos direitos humanos e do Estado democrático
de direito, por parte da polícia. Entra no rol da assustadora “quem
não reagiu está vivo”. Pois a impressão que se tem é de que o único controle da violência
que o Estado possui – e bem duvidoso, para qualquer um minimante
crítico – é de o número de mortos. Ou então a violência “sob
controle” a que o governador alude é sinal de que a série de
assassinatos que vêm acontecendo há tempos são ações sabidas,
respaldadas e legitimadas pelo governo.
Achar que policiais serem mortos
nas horas de folga, ou vinte e cinco civis assassinatos em um fim de
semana, ou um publicitário não parar em uma blitze ser autorização
para assassiná-lo, é sinal de uma situação sob controle é temerário.
Ofende qualquer cidadão que preze pelos direitos humanos – o
pessoal de Veja e muitos de seus leitores, que babam ao lê-la pela
manhã, não se encaixam neste grupo. Um homem que aparece morto
depois de ter sido filmado sob os cuidados da PM não pode estar em
conflito, como alegaram os policiais. Não se trata de um caso
“lamentável”, como lamentaram as autoridades, é contra a lei, é
crime, é inaceitável – ou deveria sê-lo, só não ao defensores
da Ordem e do Progresso –, afinal, é a polícia fazendo aquilo que
teoricamente ela devia evitar, é o Estado agindo igual ao PCC. E já
comentei alhures: escolher entre quem mata menos é uma falsa
escolha.
Num Estado em que um partido teoricamente progressista dá abrigo
a um jagunço fardado, e que a população o elege para a câmara da
capital, os seguidos endossos que o governador dá à violência
apenas indicam a continuidade da guerra urbana há muito vivenciada –
em especial pelos moradores da periferias pobres. Se trancar em casa,
em shoppings super-vigiados, em condomínios fechados, em carros
blindados pode parecer uma alternativa razoável – àqueles que
podem pagar por esses paliativos, é claro – para fugir dessa
guerra que tememos mas não fazemos nada para minimizar, porém
apenas estreitam nossa rotina e nossos horizontes, e afirmam num
grito mudo que não temos mais esperanças.
São Paulo, 14 de novembro de 2012.
1 comentário:
sempre que escuto o assunto "violência em são paulo", penso nessa mulher
http://www.youtube.com/watch?v=KrN_Lee08ow
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