Num
país em que considerável parte da população do Estado mais rico
da federação, em arroubo de bairrismo antiquado e proto-fascista,
se orgulha de ser a “locomotiva do Brasil”, a levar o país nos
trilhos corretos da história rumo à verdadeira civilização – algo
pouco além de uma maria-fumaça da inovação –; em que cargos
burocráticos de alto escalão dão abrigo à vanguarda do nosso
atraso, um mandarinato acadêmico que tem nojinho de povo e se
ressente quando lhes revelam que as grandes novidades que o deslumbra foram questionados no século XIX – como o conceito
de universidade, por exemplo –; não é de se espantar que a
mentalidade política – tanto da chamada esquerda quanto da chamada
direita – não seja lá o supra-sumo progressista.
Há
muito critico a chamada esquerda tupiniquim de ter se perdido em
algum ponto entre 1848 e 1917 (mesmo a não marxista), seja nas
análises, nas quais que ainda espera (enxerga, às vezes) o
crescimento do proletariado e ignora o aumento da classe
média/pequena burguesia, seja no plano de ação, de apoiar a
burguesia a fazer a revolução burguesa, para então preparar o
terreno para a grande noite da mudança social.
A
chamada direita, por seu turno, conseguiu passar os anos noventa sob
um figurino mais modernex. Claro, havia as exceções, como Denis
Lerrer Rosenfield, paranóico um tanto atrasado nas últimas
notícias, que ainda teme Cuba, vê comunista nas esquinas e crê
que, por conta do PT, logo terá que dividir seu carro com os pobres
(porque o comunismo, sabe como é). Via de regra, contudo, a direita,
graças ao papagaiar passivo de fórmulas da metrópole passava por
up-to-date e, sem ter que se
preocupar com o pensar, se dava ao luxo de criar frases jocosas com
todo o tempo livre de que dispunha: chamou de jurássicos seus
opositores, fracassomaníacos e neobobos os que insistiam em criticar
as idéias que ela comprava nos USA,
Petrossauro e Petrobrax à estatal de petróleo do país.
Quando
a esquerda, via PT, assumiu o poder federal, além de roubar o grosso
das políticas macro-econômicas da dita direita, ainda teve a
audácia de diminuir a oferta de domésticas nas cidades, levar luz
elétrica para desdentados dos sertões e pôr pobre em universidade
da elite. Com isso a direita perdeu aquela sua aura tão bem
envernizada: não podia atacar a esquerda por fazer o que ela fazia,
nem tinha propostas para se contrapôr; na ânsia de conseguir fazer
alguma crítica, evidenciou sua precariedade e seu atraso: não foi
capaz de criticar a partir dos pressupostos que ela dizia se embasar,
e tudo o que conseguiu foi manifestar preconceitos, que alguns até
tentaram travestir de crítica séria: pobre em aeroporto, preto em
universidade, nordestino em supermercado, favelado com casa e carro,
e por aí vai (um bom show de stand-up comedy
a la Marcelo Tas deve dar um panorama razoável desse pensamento, com
os adendos nos costumes).
Ontem,
ao sair de casa, noto que colaram um adesivo na lixeira em frente ao
prédio – se não foi esta noite, foi esta semana. Nele o sinal de
proibido sobre uma mão sem o dedo mínimo, em baixo a frase “Fora
Ladrão”. Na hora penso, para além do seu mau-gosto preconceituoso
evidente: a chamada direita é retrógrada não somente nas suas
idéias, mas suas informações. Assim como alguém precisa informar
o Rosenfield que a União Soviética acabou, que Mao morreu (McCarthy
também), e que o “deixe a esquerda livre” nas escadas rolantes
do metrô não são propaganda subliminar dos comunistas, precisam
avisar os militantes da nossa direita que o governo Dilma já vai pra
sua metade do seu governo como presidente da república – ou seja,
o tal ladrão já está fora, e eles estão gastando dinheiro à toa.
São
Paulo 24 de novembro de 2012.
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