Como não moro em Cruzeiro (DF), não me deparo com nenhum pacote de
presente com dinheiro na porta de casa, mas ao sair, na minha frente
caminha uma mulher de cabelos castanhos. Pelo caminhar, desconfio que
seja oriental. Ao alcançá-la na esquina, onde parou para o sinal
fechar, confirmo minha impressão. No Center 3, três homens de terno
e grava e com um gestual muito solto para a sisudez do traje dão a
impressão de uma cena a la Pulp Fiction (nenhum parece
Travolta, e o negro do grupo tem apenas um bigodinho, nada de
costeletas, como Samuel Jackson). Ficam um bom tempo parados, dois
apoiados, conversando, o outro ao celular. Até que surge um quarto
homem, esse de terno cinza, carregando uma sacola com sanduíche, e
os três vão atrás dele. Se não é Pulp Fiction é outro
filme. Na entrada do shopping, três homens – sem terno, mas com
gravata – terminam, lado a lado e concentrados, seus sorvetes de
casquinha. Não conversam, apenas degustam da sobremesa. Parecem três
crianças deslocadas no tempo e nas roupas. À noite, em frente ao
mesmo local, vejo duas garotas de top e shortinho minúsculo
atravessarem a avenida Paulista com o sinal aberto para os carros.
Uma delas, mais ousada (no sentido de se meter na rua), vira a bunda
e rebola quando o carro pára para não atropelá-la. A cena me
pareceu meio David Lynch, demi-absurda, com a pegada de pop-art da
decadência de Arthur Bispo do Rosário. Descendo a Augusta, há dois
homens de idade na minha frente. Um deles faz um gesto qualquer e
imagino que sejam ingleses – o do gesto, ao menos. Não sei se vem
realmente da Inglaterra, não reconheci o sotaque, mas ao passar por
eles falavam em inglês. Quase chegando em casa, me vejo no meio de
uma fila de mulheres – são três na frente, quatro atrás –
andando em fila indiana atrás de um homem. Sigo meia quadra assim,
um tanto constrangido por parecer que também estou atrás do macho
alfa. Eles atravessam a rua, vão para o bar, eu subo as escadas e
entro em casa. Na sala São Paulo é proibida a entrada de pessoas trajando bermudas, shorts e chinelos. Pessoas trajando fantasias bufas de nobre (ou bobo, não soube identificar) da corte estão proibidas de usarem perucas Luis XIV durante o concerto.
São Paulo, 08 de fevereiro de 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário