Estou mais do que habituado a receber spams na minha caixa de
e-mails. Spam é o que há de mais abundante e elementar na internet,
talvez só perca para a pornografia (por sinal, um site pornográfico
evangélico poderia render uma boa grana). Por sorte os novos
provedores de e-mail têm sistemas anti-spam muito bons (novos porque
sou da época do zipmail, do mail.com, do yahoo.com (não havia o
.br), e neles sobravam muitos spams na caixa de entrada), de
forma que só dificilmente sou importunado por alguma propaganda (a
senhora Beatriz Azevedo, do Acrobeat, não sei como, sempre finta o
filtro). Não nego, contudo, uma curiosidade mórbida por aquilo que
o Gugou deixa fora da minha vista. Vai que marcou como spam algo que
não era? Até hoje nunca aconteceu, mas vai que.
Na pasta de spam estão lá três ou quatro e-mails com notícias
diárias que tive preguiça de desassinar. Há sempre ofertas
imperdíveis – de lojas que já comprei algo e das que nunca ouvi
dizer. Há os anúncios para aumentar meu pênis, que nunca me
interessaram, os para parar de roncar, os que vendem sapatos ou
produtos de beleza, que tampouco me interessam, e têm aparecido
vários prometendo resolver o problema da calvície – reconheço,
já abri desses. E sempre há amigos que não conheço me deixando
mensagens em redes sociais das quais não participo. Há ainda os
e-mails me avisando de parentes que eu não sabia que tinha espalhado
pelo mundo – África, Ásia, essas terras tidas por exóticas –
que morreram e que não sei como sabiam da minha existência, mas me
deixaram zilhões de dólares de herança. Amigo meu teve a mesma
sorte: apesar de nikkei, descobriu que tem raízes tchecas, e um
falecido tio rico que depositou uma boa quantia num banco chinês. Quis saber mais da morte do seu tio Ivo, mas parece que não obteve detalhes.
Hoje abro minha caixa de spam e tenho uma surpresa. Nada de produtos
milagrosos, de férias e finais de semana inesquecíveis, de
mensagens no facebook, de fotos da minha ex fazendo sexo na piscina,
de milhões de dólares. Hoje eu ganhei trinta e cinco
reais! Está lá, nada de três mil e quinhentos: três cinco vírgula
zero zero, com a vírgula separando os centavos. Sem historinhas mirabolantes, sem mortes, sem sorteios, sem chaves da Readers Digest: bastava eu clicar num link
e ganhar o dinheiro!
Admito: fiquei com preguiça. Preferi seguir
minha vida sem essa pequena fortuna caída do céu.
Pato Branco, 27 de fevereiro de 2013.
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