Em
seu livro Sociedade Excitada: filosofia da sensação,
Christoph Türcke comenta que não é qualquer fato que merece ser
notícia, e sim aqueles que dizem respeito a todos - ao menos era
assim na Roma antiga, em que eram noticiadas questões concernentes
à res pública. Com o
advento da imprensa de massa e da indústria cultural - da empresa
jornalística -, o que merece ou não ser notícia, que coisas são
relevantes ao público ou não, passa a ser alvo de disputa - tanto
quanto aquilo que é noticiado. Na pressão por vendas, a imprensa
corporativa não hesita em dar relevância a temas irrelevantes -
mas
que atraem o público -, e não tem pudores em ser seletiva nos
assuntos da res pública que
devem ser considerados importantes.
Além desta necessidade de sobressair, Türcke destaca outros dois
denominadores comuns da notícia em nosso tempo: deve ser nova e
deve
ser compreensível. Este último aspecto implica na simplificação
da realidade, em tornar um assunto complexo em familiar ao grande
público, em algo quantificável, em uma imagem - ou seja, em algo
próximo da linguagem publicitária: que demande o mínimo de atenção
e esforço mental. Sobre a necessidade de ser sempre nova, algo
merecedor de ser notícia em um dia deixa de sê-lo no dia seguinte
se não houver desdobramentos que o justifiquem. Ao cabo, a lógica
da notícia acaba sendo invertida: "a ser comunicado, porque
importante" a ideologia apregoa, sub-repticiamente, que
"importante, porque comunicado".
Tudo isto mostra algumas das dificuldades da imprensa alternativa,
tanto na questão do conteúdo quanto da forma: como impôr pautas no
debate público, quais pautas postas pela Grande Imprensa merecem
ser
discutidas; de que modo fazer isso?
Não
resta dúvida que as novas tecnologias têm alterado nossa
percepção:
cada vez é mais difícil manter a concentração em um longo texto
enquanto links para assuntos relacionados surgem aos borbotões em
todos os lados da tela do computador ou do celular. Isso
justificaria
reduzir a análise a um tuíter, a um slogan publicitário, a uma
palavra de ordem? Coxinha
e petralha são dois
exemplos de "conceito-síntese"
que permitem uma crítica em uma linha: enuncia-se o "descalabro"
ou o "desrespeito" e avisa que é coisa de petralha
ou coxinha. No que
isso contribui para o debate?
Ademais:
devemos aceitar como notícia apenas o que está candente? Estamos
estarrecidos com a votação da PEC da maioridade penal, mas não
podemos esquecer que ainda correm a reforma política e a lei da
terceirização. Assim como rebatemos o que a Grande Imprensa nos
faz
lembrar diuturnamente, não podemos sucumbir ao esquecimento
seletivo
que ela - e o ritmo alucinado da timeline
do Fakebook - nos propõe.
Provocar, mas não pela provocação rasteira veiculada na Grande
Imprensa e repetida alhures, que apenas reforça posições e incita
o ódio. Por uma provocação que nos desestabilize da nossa zona de
conforto, que critique também o ponto onde estamos. Por uma
provocação que nos convide a repensar e a rediscutir - e nos
incite
a agir.
05 de julho de 2015
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