Aqueles
que entoam o "não vai ter golpe" não podem estar mais
enganados: a ida de Lula para a Casa Civil é a admissão velada de
que há um golpe de Estado em estágio avançado.
Lula
pode não ter feito faculdade - diferentemente da maioria dos cabeças
do golpe em curso e dos seus apoiadores apedeutas dos bairros nobres
da nação -, mas é inteligente e demonstrou isso com tudo o que
aprendeu ao longo de sua vida pública. Depois de afirmar que seria
candidato em 2018 (eu ainda acho que ele não queimaria seu capital político com um terceiro mandato, antes tentaria a presidência da
ONU, não fosse todo o trabalho dos seus inimigos de pô-lo fora da
disputa da presidência do país), assumir um cargo no governo Dilma
como o fez, às pressas e sem outras mudanças de imediato, seria um
suicídio eleitoral - estivéssemos nós em condições democráticas
normais. Não estamos, e assumir a Casa Civil foi a forma que o
ex-presidente achou para tentar garantir eleições livres em 2018 -
seja para ele ou para quem for do PT (e da esquerda?) participar.
(Parênteses
para meia teoria conspiratória: a impressão que se tem é que sua
prisão (na Guantanamo brasileira, conforme alcunha corrente da
carceragem da PF em Curitiba) era para breve, ao que se seguiria o
processo de impeachment de Dilma e sua destituição do cargo, um
governo tampão "de união nacional" (vulgo PMDB, PSDB e os
donos da voz) até 2018, quando novas eleições correriam
"normalmente", sem perigo de vitória petista - tudo feito
sob a supervisão do judiciário brasileiro e da nossa Grande
Imprensa, ambos de notória imparcialidade).
A
nomeação de Lula para a Casa Civil foi um belo contra-golpe
político: no plano interno, dá ao governo petista um alívio -
pequeno e por si só insuficiente - nas negociações com o
legislativo, retardando o impeachment num primeiro momento, com
possibilidade de freá-lo tão logo consiga se estabelecer (Paulo
Henrique Amorim fala que Lula já estaria fechado com a maioria do
PMDB, e a governabilidade, garantida); no plano internacional é que seu lance é grandioso: ao
entrar no governo, uma destituição da presidenta deixaria
escancarado ao mundo nossas instituições de república bananeira
(em pé de igualdade com nossos hermanos paraguaios, de
má-lembrança), o que traria sanções ao país, além de ferir
nosso orgulho nacional tão pós-moderno e ao mesmo tempo tão século
XIX - visível nas manifestações de domingo ou em manifestações
de tucanos ou nas manifestações tanto dos políticos do Partido Conservador quanto do Partido Liberal -, de sermos quase primeiro mundo, não fosse a maioria da
população desta terra, esse populacho feio e ignorante feito de gente mestiça
e pobre.
O
acerto do lance de Lula ficou evidente no destempero dos principais
articulistas do golpe, Moro pelo judiciário e Globo pela Grande
Imprensa e partidos de oposição de direita, ao divulgar conversas
da presidenta da República - um crime contra a segurança nacional.
Foi a comprovação de que o golpe estava em curso e que o
contra-golpe também - "Nietzche", Marx e Hegel foi a primeira tentativa destrambelhada de barrar o contra-golpe. Se a espionagem da presidenta por parte da NSA (sigilosa, não fosse o WikiLeaks) mereceu congelamento das relações
brasileiras com o todo-poderoso Estados Unidos, a espionagem e
divulgação de conversas privadas da Presidente da República, com
claro intuito de perturbar a ordem pública - o próprio Juiz admite
de que não há indícios nas conversas -, merece respostas à
altura, contra o juiz, contra o Grupo Globo de comunicação (e suas
concessões públicas), e demais envolvidos nessa lastimável
página de nossa história.
Como
já disse em outra análise: o Brasil hoje não se divide entre
petistas e anti-petistas, coxinhas e petralhas, como a Grande
Imprensa tenta fazer crer (e muitos acreditam); mas entre os
defensores da democracia (falha, capenga, mas ainda assim sob o manto
do direito e com possibilidades de aprimoramentos) e de uma ditadura
com fortes traços fascistas.
PS:
na CBN ouço da manifestação em Brasília, acompanhada pela PM e
pelo exército. Desde a tentativa de locaute dos caminhoneiros, ano
passado, tenho achado que o que o Exército mais quer é ter que
entrar no jogo, garantindo a normalidade institucional ao obedecer as
ordens das presidenta, e poder cobrar a fatura com o fim de Comissão
da Verdade qualquer coisa relacionada ao período em que eles
encabeçaram a ditadura nestes Tristes Trópicos - aplaudidos,
diga-se de passagem, pelos mesmos que hoje aplaudem Gilmar Mendes,
Sérgio Moro e seu jagunços.
PS2: é hora de Lula rever o documentário da BBC "Além do Cidadão Kane" (Beyond Citizen Kane), de Simon Hargo, em que um então político de esquerda homônimo ao ministro da Casa Civil falava do imperativo em se romper com o monopólio da comunicação do país, sob o risco de nossa democracia nunca poder triunfar por completo [http://j.mp/1XwkfRC].
16 de março de 2016.
1 comentário:
Muito boa essa análise política. De fato, foi a nomeação de Lula ministro foi um contra golpe no golpe e deixou os golpistas estonteados feito baratas. Penso que faltou algo nesse contra golpe e que, na manifestação do 18 de março, foi corrigido. Trata-se do povo na rua. Digo POVO e não patrões e patroas acompanhados de suas empregadas empurrando carrinhos com bebês. O POVO na rua tonifica o contra golpe e nocauteia golpistas de plantão, como a rede globo, moros e mendes das trevas.
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